sábado, 9 de junho de 2012

Novos olhos

Ontem estava conversando com o Marcelo sobre uma coisa, resolvi falar dela aqui...
Depois de tudo que passamos, nosso olhar sobre o mundo mudou um pouco. Claro que já sabíamos que as pessoas tinham problemas, ficavam doentes, às vezes perdiam as esperanças.... Mas ver tudo de dentro faz com a que a gente sinta mais e melhor a dor dos outros, se é que vocês me entendem... Sei de várias pessoas que sabem do meu caso mas evitam falar diretamente comigo ou me visitar por medo de lidar com essa adversidade, com essa doença que tem um peso muito grande. Para ser bem sincera, eu mesma evitava (e ainda evito algumas vezes) ficar muito perto de "desgraças".  Em parte por não saber como lidar com a pessoa que está passando pela situação, em parte porque uma certa distância ajuda a gente a acreditar que a vida seja boa. Ainda acredito que a vida seja boa? Sim. Mas é diferente. Acho que isso é um amadurecimento. Como o Marcelo disse no último post dele, a vida nem sempre é justa (pelo contrário) e temos que aprender a lidar com isso. Desde que recebi meu diagnóstico e montei o blog, recebi dezenas e dezenas de relatos de pessoas doentes, muitas vezes em situações bem piores que as minhas. Posso rezar, posso estar por perto (mesmo que virtualmente falando), posso encorajar através do que escrevo, mas não posso mudar a realidade da pessoa. Não posso dar a ela pais melhores, mais dinheiro, melhores médicos ou voltar no tempo e fazê-la descobrir sua doença antes, por exemplo. Isso dá uma tristeza, uma espécie de frustração...
Claro, podemos fazer algo para melhorar o mundo: ajudar o próximo, dar bons exemplos, tentar ser uma pessoa melhor a cada dia, ajudar quem ajuda (instituições de caridade) etc. Mas isso tudo não vai mudar o fato de que a vida muitas vezes não é justa e que pessoas boas vão sofrer. 
O que eu quero dizer com tudo isso é que a minha doença me aproximou do sofrimento e hoje vejo o mundo com outros olhos. Eu, que sempre gostei de pensar positivo e olhar o lado bom das coisas, já "varri para baixo do tapete" alguns sofrimentos.  Hoje não consigo mais. Isso é bom ou ruim? Por um lado pode ser bom. Como eu disse, um sinal de amadurecimento, uma empatia maior com o meu semelhante. Por outro lado, um desencantamento, uma sensação de frustração, uma tristeza maior pelo sofrimento do mundo. Seria um peso grande demais? Como viver sofrendo tanto pelos outros se a humanidade sofre tanto e constantemente? Esse é sem dúvida um próximo passo para o meu amadurecimento: chegar a esse equilíbrio. 


11 comentários:

  1. Nossa Helo esse comentário nós aqui de casa tivemos a um tempo atrás, sempre fui uma pessoa que se solidaliriza com o sofrimento das pessoas e muito mais qdo essas pessoas são próximas a nós, trazia os problemas das pessoas muito pra perto de mim a ponto de as vezes ficar doente junto ou deprimida por não poder fazer nada pra amenizar o sofrimento delas, então minha filha sempre dizia: esse problema não é seu, não ao ponto de ficar doente junto, de parar sua vida porque está acontecento tal coisa com tal pessoa, eu achava aquele comentário egoísta demais, hj vejo que ela estava certa, não que eu deixei de me sensibilizar com o sofrimento das pessoas mas consigo separar os meus sofrimentos e os sofrimentos que as outras pessoas tem que passar.
    Um bj e estou sempre torcendo por vc

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    1. É verdade, se nos deixarmos envolver além da conta com os problemas alheios, a ponto de vivermos em sofrimento constante, seremos inclusive pessoas piores para ajudar esses mesmos outros...
      Bjsss, obrigada!

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  2. A busca por esse equilíbrio é uma alternância eterna, Helô. Num dia vc está se sentindo ótima porque ganhou um bom dinheiro, comprou algo novo ou comeu uma sobremesa incrível e vê crianças com fome na rua, ou viciados vivendo uma semi-vida sofrível...não dá para ignorar e, claro, vc não fica mais tão feliz assim, começa a questionar a justiça das coisas. Um exemplo que, pra mim, retrata bem o que vc está falando no post, é como me sinto sobre esse tempinho frio. É quase automático na minha cabeça: assim que penso "humm posso ficar em casa enrolada no edredom tomando um chazinho", penso o quanto o frio é uma época horrível pra quem mora na rua, aí querer que fique frio pra curtir um edredom me parece algo injusto. Isso já foi mto mais difícil pra mim do que é hoje, a ponto de ficar dias angustiada qdo via pessoas e animais maltratados e injustiçados ou doentes, mas aprendi a dosar um pouco, filtrando a sensibilidade excessiva que me angustiava tanto. Vc vê que a gnt partiu de "margens opostas", mas acredito que vc vai chegar no seu equilíbrio (pq isso realmente é uma "dosagem" individual) e vai ser, no final, mais feliz do que qdo "varria" mais as coisas pra debaixo do tapete, rsrs. E qdo vc chegar nesse ponto, a sensação de desencantamento vai desaparecer, pois a realidade é sempre melhor qto mais ampla. Por várias razões e cursos de vida diferentes, esse desencantamento aconteceu mais cedo pra mim, aí ou era achar meu caminho do meio ou viver sendo uma pessoa triste. Escolhi o meio (meu meio) e vc, que se conhece tanto (a sua sinceridade nesse texto "grita" o quanto vc sabe quem é) e que vê a vida sem arrogância, vai chegar ao seu equilíbrio, logo. Qdo leio um post assim, só consigo te admirar mais.

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    1. É mesmo! Não digo que antes eu fosse insensível ou não me preocupasse com o sofrimento dos outros, eu só escolhia guardar certa distância como uma maneira de proteção... E hoje tenho que encontrar o equilíbrio!!! Que bom que vc gostou do texto...
      Bjsss

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    2. Helô, mas nem eu quis dizer que varrer pra baixo do tapete era insensibilidade e em momento algum acehi que vc fosse de qq forma insensível. Não estava no seu texto, nem estava no meu comentário, tá?! Se fosse assim, eu estaria dizendo que me tornei mais insensível ao longo dos anos também, rsrs. É exatamente como vc disse na resposta: proteção. Aprendi a me proteger do sofrimento que não posso mudar. Não posso resolver o problema de uma pessoa que vem me pedir dinheiro na rua, mas nunca desprezo a pessoa ou mudo de calçada; eu falo com ela, olho nos olhos e assim faço com que ela não se sinta invisível ou indesejada. E no final, geralmente ouço deles um obrigada ou boa sorte. Vi até que vc escreveu um post explicando o tal do varrer, espero que vc não tenha se incomodado tanto assim com o que eu disse, pq, mais uma vez, nada na minha resposta te põe como insensível. =)

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    3. E acredite: se, por alguma razão estranha (vc teria que se esforçar), eu achasse que vc estava sendo insensível, eu não escreveria um comentário. Seria melhor não comentar nada, né, hahaha...

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    4. Eu sei maluquete!!!!! Rsrsrsrs... foi só uma nova reflexão, eu mesma fiquei pensando nisso!!!!! kkkkkk
      Bjsssssss

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  3. PS: O comentário do tamanho do post é pra compensar o fato de eu não comentar mais por aqui faz tempo, hehehe. Também, cada comentário desse tamanho leva 40 minutos pra ser escrito, e como o tempo anda curto, fica difícil mesmo né?! Hahahaha...Bjosss

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  4. Engraçado.. estava conversando algo parecido com uma amiga ontem. Penso que esse contato com o sofrimento, por um lado tira um pouco da leveza de quem ver o mundo perfeito e de pessoas felizes. Mas, por outro, faz a gente dar valor ao pequeno, aos detalhes. Exatamente por lidar com o sofrimento e com a possibilidade da morte é que percebemos o que de fato nos importa. Passamos assim a nos conhecer melhor e a procurar esses momentos de alegria verdadeira. Também começamos a não levar os problemas tão a sério. Coisas que antes nos tiravam do sério, hoje nem percebemos ou tratamos como mero aborrecimento.. afinal, diante de tudo pelo que estamos passando ou pelo que já passamos, fica claro que nosso tempo aqui é muito precioso para despediçar com sentimentos ruins. No final das contas, acho que essa "maturidade" conquistada é uma coisa boa na minha vida porque fez cada coisa, cada situação, cada sentimento assumir o tamanho que lhe convém e deixei de passar despercebida por alguns "pequenos" - agora enormes - "milagres diários"! Bjs

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    1. Que bom, realmente é mais um aprendizado na vida. Para algumas pessoas maior, para outras menor, mas sempre um aprendizado. É só olhar pelo ângulo certo!
      E o equilíbrio é um desafio diário...
      Bjss, boa sorte para nós!

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