Ia escrever sobre outra coisa
hoje, mas quando li este texto, não pude deixar de pensar: "nossa, ele
explicaria com perfeição o que eu disse ontem!". Resolvi colocá-lo no
blog. Nunca falei claramente mas acho que vocês já perceberam pelos meus comentários
("fui falar com o Padre", etc) que eu sou católica. Porém, acredito de
verdade que todas as religiões que pregam o amor são válidas e ótimas. Acho que o
objetivo das religiões é a união das pessoas no amor e não a sua segregação
"esse é dessa religião, esse é daquela, aquela é melhor...". O Padre
Paulo, que escreveu esse texto, é conselheiro espiritual, conversa com as
pessoas que buscam explicações, alento, orientação. Eu sempre converso com ele
e acho-o muito sensato. Ele escreve textos toda semana e o dessa semana caiu
como uma luva. Não pretendo catequizar ninguém quanto à religião, só pretendo mostrar a idéia. Também não pretendo suscitar uma discussão sobre quem concorda ou não em termos de números e idéias fundamentais. Só pretendo explicar que acredito (de verdade) que quando deixamos as coisas nas mãos de Deus vivemos mais tranquilos e felizes! Aqui vai:
Olá! Eis a idéia para vocês
refletirem ao longo da semana: “O abandono nas mãos de Deus”.
Ao atender as pessoas, vejo
quanto elas vivem tensas e ansiosas. Pode-se dizer que a tensão nervosa é uma
das maiores doenças do mundo moderno. Muitas pessoas:
- vivem com a coluna toda rija;
- não conseguem dormir direito;
- estão sempre com dor de cabeça;
- procuram todo tipo de
relaxamento e não conseguem relaxar.
O que eu diria a essas pessoas?
Diria a elas que vivem assim porque não ouviram falar sobre um dos pilares da
vida espiritual que é o "abandono nas mãos de Deus", ou já ouviram
falar dele, mas ainda não aprenderam a interiorizar seu significado. De fato, o
abandono nas mãos de Deus é uma das verdades mais fundamentais do cristianismo!
E qual é essa verdade? Que Deus é Pai e, justamente porque é Pai, está do nosso
lado para resolver todos os problemas da nossa vida. Mais ainda: nós não
existiríamos se Ele não nos tivesse criado; os problemas da nossa vida não
existiriam se Ele não os quisesse (e podem desaparecer a hora que Ele quiser).
Mas Ele os quer porque, tendo de lidar com eles, nós amadurecemos humana e
espiritualmente. Deus nos diz (e isso é importantíssimo): "A sua parte
para solucioná-los é apenas uma pequena parte, diria uns 10%; da outra parte,
os 90% restantes, sou eu que tomo conta". Deus nos diz: "Faça a sua
parte, os 10%, que eu faço o resto, os 90%".
Vendo de outra forma, Deus nos
diz: "Você já reparou que, diante dos teus problemas, você tem controle
apenas de uma pequena parte? Por exemplo, você não tem o controle do futuro, não
tem o controle da sua saúde, não tem o controle da liberdade dos seus filhos,
porque eles são livres, você não tem o controle do que o seu chefe pode fazer
amanhã com você, não tem o controle do mercado financeiro, ele pode se voltar
contra você a qualquer momento etc., etc. Sobre tudo isso você pode fazer algo,
pode controlar algo como 10%. Mas do resto, os outros 90%, deixe que eu tomo
conta. Eu sou seu Pai, eu cuido de você. Eu sou o principal interessado na sua
felicidade".
Nesse sentido, qual é o erro em
que muitas pessoas incorrem? Eu diria que são dois:
- querer controlar tudo; e
isso é simplesmente impossível para nós, seres humanos; como acabamos de ver, não
controlamos quase nada! Como diz um velho refrão africano, "por que hás de
levar o mundo nas costas se o mundo não te pertence?". E diríamos com toda
a paz: pertence a Deus!
- não confiar em Deus; não confiar que Ele nos ama, que
está do nosso lado e é o principal interessado em nossa felicidade. Não confiar
que os problemas só existem porque Ele os confiou a nós; e não por uma
brincadeira sádica, mas como bom Pai, que quer nos ver crescer diante das
dificuldades.
As pessoas me perguntam: então
qual é a minha parte? Eu respondo: a sua parte é lançar mão de todos os meios
para resolver os problemas, até antes do limite em que se começa a perder a
paz. Esta é a nossa parte e não mais do que isto! Se começo a perder a paz é
sinal de que estou indo além deste limite, é sinal de que já estou fazendo mais
do que aquilo que me compete, mais do que os 10%.
Um parâmetro importantíssimo:
Deus jamais quer que percamos a paz! Se eu perco a paz é porque já estou
querendo controlar coisas além do que me cabe. Este é o abandono: ocuparmo-nos
dos nossos deveres e não nos (pre) ocuparmos com eles. Administrar problemas,
muitos problemas, ter pressões de todos os lados, mas estando sempre serenos,
abandonados. Para terminar, sugiro uma frase para exercitar o abandono todas as
vezes que começarmos a perder a paz: "Senhor, em tuas mãos abandono
o presente, o passado e o futuro, o pequeno e o grande, o temporal e o eterno.
Assim seja, assim seja!".
Uma santa semana a todos!
Pe. Paulo M. Ramalho **************************************************************
Pe. Paulo M. Ramalho - Sacerdote ordenado em 1993.
Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP; doutor em Filosofia
pela Pontificia Università della Santa Croce; Capelão do IICS
(InstitutoInternacional de Ciências Sociais). Atende direção espiritual na
Igreja de São Gabriel, em São Paulo.